A revolta de uma dependente de crack contra um salão de beleza
A moça olha para o salão de beleza. E para na entrada. O que vê , faz reviver o passado. Um dia ela também cuidou dos cabelos, das unhas, vestiu roupas limpas e coloridas. E voltou para quem amava. E hoje? Veste roupas sujas, os pés estão descalços, os dedos queimados, os dentes arrebentados, uma vida devastada pelas pedras. Pedras de crack. Pelos espelhos , olhamos com preocupação para aquela moça doente, que continua entrando no salão. E o tamanho da distância dos mundos vem em suas duas únicas palavras: ‘Uma moeda! Uma moeda!” Está próxima ao caixa. A dona do salão se aproxima. E pede com educação, coragem e firmeza: “Por favor, vai embora.” E a moça obedece. Mas fica na porta. Anda de um lado para o outro. E, de repente, tira o casaco sujo e rasgado que veste, e atira, com ódio, para dentro do salão. E vai embora.
Aconteceu neste sábado à tarde, na Barão de Limeira, alameda com prédios residencias e comerciais, no centro de São Paulo.

Quem chegava ao salão, descrevia a moça, que continuava exigindo com raiva moedas nas calçadas da Barão de Limeira, endereço a algumas quadras da maior cracolândia do Brasil, a da Luz, no centro da cidade, onde ela divide espaço com outros milhares de dependentes também doentes abandonados nas ruas, escravos de drogas, colocando em risco suas vidas e a de terceiros na necessidade de ter como pagar os traficantes. Todos com uma doença que tira a capacidade de escolha mas que para a rede municipal de Saúde podem dizer se querem, ou não, tratamento. É que a Prefeitura adota a política de Redução de Danos, que significa “reduzir os riscos associados sem, necessariamente, intervir na oferta ou no consumo de droga”.
Prefeitura que também ignora a nova lei federal em vigor, a 13.840/2019 que autoriza agentes públicos e famílias pedirem ao psiquiatra a internação involuntária em hospital do SUS, quando o dependente já perdeu o controle de suas ações, colocando em risco sua vida e a de terceiros.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm
Portanto, lágrimas e sofrimento devastador no presente e no futuro de mães, pais, famílias de dependentes de drogas, como os desta moça dependente de crack, em São Paulo. Além dos riscos que já tiram dos moradores e comerciantes da Barão, o direito de ir, vir e trabalhar em segurança. Está na Constituição. Mas, direito que, cada vez mais, perdemos na cidade de São Paulo.
Esse texto.me comoveu. Ele reflete a realidade nua e crua dos 3 lados dependentes, nós os que os tratam e ou amam, e os políticos!
Quem sabe um dia os políticos percebam que sabemos dos interesses escusos que os movem. Temos que ficar atentos na hora de votar.